Pensamenteando

Tarancón

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Ela dizia que queria ser engenheira quando crescesse. Os adultos perguntavam: O que você quer construir? Esperavam que ela respondesse algo prático como uma casa ou um hospital, mas não. Flores, ela respondia.

Queria construir flores.

Por isso passava o dia no jardim, desenhando aquelas formas diferentes; na hora de pintar, analisava as pétalas, o caule, os espinhos e misturava o que tinha até chegar em um nome novo: Roselho, Verosa, Marreto, Branzul, etc… não repetia, dizia que como cada flor era única, precisavam de uma cor própria. Perguntava se elas sabiam seus nomes, ou se entendiam aqueles bobos que os adultos usavam. Começou a chamá-las com os que ela mesma criava, que dizia serem nomes verdadeiros. Nomes de essência. Depois de um tempo, já inventava as suas próprias flores.

A que ela mais queria era uma rosa que ficasse girando para a lua. Seria prateada, com um tom de azul igual aos olhos do moço que cantava as poesias no rádio do pai. E seria linda. E seria forte. E ela dizia que a flor ficaria florida por muito tempo, mas também daria tchau, porque ainda seria uma flor, e elas não são para sempre.

E a menina, com seus cabelos negros como a noite, cresceu, mas não se tornou engenheira. Nem chegou a construir flores. Mas viveu uma vida florida. E sempre que olhava a lua, naquela alva imensidão, um sentimento sem nome desabrochava no seu peito, e ela chorava um sorriso, que a fazia lembrar daquela menina que queria construir flores.