Pensamenteando

Um pequeno mapa

🎃

O vento voa pelas clareiras do mundo e ele carrega consigo uma canção. É por isso que em momentos de ímpetos, em que o coração o deixa entrar, são ditos os despropérios e as juras de amor. É da canção que as palavras vem. E é para a canção que elas acabam voltando.

Ele corre por campos verdejantes e cidades cinzentas. Passa por autoestradas e vai para as vias laterais. Faz a grama ensolarada farfalhar e as árvores dançarem, mesmo paradas. Depois, e ao mesmo tempo, dá a volta, sopra por entre amantes que discutem, e leva consigo suas mágoas.

Algumas vezes é um vendaval birrento, mas acaba encontrando o mar ou um velho amigo, ou até a si mesmo, em algumas ocasiões, e o encontro é um acalanto que dissipa a raiva e o faz ser outra vez uma brisa, que entra nos corações, pois dentro deles também sopra um vento que quer voar.

Ele entra e rodopia e ri, antes de abrir a porta. E a porta dá para o sertão. Lá dentro ele bagunça tudo, e sai depressa, levando consigo o que não sabemos dar nome, mas que sentimos ter em falta. E do lado de fora, depois de mergulhar no lago do diabo, passa por um poeta que não canta o ódio, mas provisoriamente também não canta o amor, e o vento, no seu vai e volta, acabará levando-o também, indo até o Piauí, onde varrerá as folhas, os aromas, os sonhos e os teus sorrisos, e minha vida ficará cada vez mais cheia, como vento no litoral.

 

Talvez um dia isso vire um poema. Obrigado Belchior, Drummond, Manuel Bandeira e Renato Russo.