Pensamenteando

O assaltante

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Belo Horizonte. Quarta-feira. Madrugada. Praça Sete. Três indivíduos carregam uma mesa com um tabuleiro de damas como se ela pesasse duzentos quilos. Se aproximam da lixeira ao lado da árvore, depositaram a carga no chão entre a parede do banco e o lixo amontoado. Latas amassadas que ainda não haviam sido recolhidas por algum catador, refletiam as luzes amarelas. Não há muito movimento, apesar de sempre passar por ali um ou outro gato pingado. Mesmo de madrugada.

Os três olham apreensivos para os lados, como se para confirmar que estão seguros. Um deles, o menor, acende um isqueiro e, curiosamente, leva a mão trêmula que sustenta a chama até a parte de baixo da mesa. Eles desatam a correr como se aquele tabuleiro fosse explodir.

O tabuleiro explode.

O ronco sobe como se a polícia estivesse jogando bombas contra manifestantes (os baderneiros, não os outros, com camisas da CBF). É como se alguém houvesse soltado fogos de artifício. Depois do barulho, chegam a fumaça e a poeira, que se aglomeram ali onde estava o falecido tabuleiro, como se desejassem acompanhar o final de um jogo emocionante, mas não tendo mais o pedaço de madeira presente, se dispersam por toda a praça.

Os três voltam correndo, e um Uno prateado, com escada no teto, avança para a área de pedestres onde o show acontecia. Eles – com exceção do Uninho –, se aventuram pelo buraco recém criado, e começam a recolher o dinheiro de dentro de um caixa eletrônico. A máquina havia sido atingida pelo choque e acabou seminua, sem aquela parte blindada tão incômoda. Os três pareciam muito felizes em vê-la assim.

No mezanino, logo acima da entrada, o gerente da agência e seu secretário sobem apressado as calças. Dá-se então uma situação delicada. Os três encaram os dois, que por sua vez, olham para todos os lados, estupefatos, como se não entendessem aquela última jogada explosiva. Os visitantes sacam armas e parecem convencer os funcionários de que aquilo não é uma brincadeira.

O gerente, meio sem ar, responde que entende sim, sem sombra de dúvida, diz ainda que odeia brincadeiras, e oferece, antes mesmo deles perguntarem, se vão passar para o cofre; e acrescenta que ele mostra o caminho sem problema algum, mas que precisa sair dali porque a esposa dele não pode saber que ele fica até tarde com o Estevam, porque ela morre de ciúmes daquela voz sexy sempre que liga pro banco, e diz que uma vez ela pegou o celular dele, e viu uma mensagem que foi dificílima de explicar, mas que ela acabou convencida que os dois estavam combinando de amassar beterraba juntos.

Os três falam ao mesmo tempo, de forma eufórica, gesticulando as armas, que não importava, não ia dar tempo de fazer porra nenhuma, e era para os dois ficarem de boca fechada. Nessa hora, o Uninho prata começou a piscar o farol energicamente, e o motorista a gritar que a polícia estava chegando. Aquilo motivou os três de uma forma que aquela historinha do gerente jamais conseguiria.

Eles puxaram mais notas para dentro da bolsa preta que carregavam e foram correndo até o carro.

O Estevam – que parecia soltar o ar pela primeira vez em muito tempo –, abriu um leve sorriso de alívio, porque aquela história toda significava que o teimoso do João teria que finalmente assumir esse caso dos dois, e talvez, por isso mesmo, ficou tão decepcionado quando, na manhã seguinte, soube do gerente de banco que foi preso ao tentar apagar a gravação das câmera de segurança.