Pensamenteando

O andarilho

Dorival teve o desprazer de morrer em um domingo ensolarado.

Estava caminhando pelas ruas da cidadezinha em que morava há cinquenta anos. Passos largos. Um sorriso estampado na face. Cumprimentou a todos que passavam pelo seu caminho. Caloroso, olhava em volta como se visse tudo pela primeira vez. O brilho do sol parecia estar dentro dos olhos: curiosos e sorridentes.

A esposa o havia advertido para não exagerar. Passara os últimos meses trancafiado em casa, se recuperando de uma pneumonia. Antes de sair, disse que ia à feira. Queria comer o tutu que só a mulher sabia fazer. A presenteou com um beijo demorado, com estalo no final e saiu de peito aberto.

No caminho de volta, olhava para a sacola, salivando.

Morreu subindo apressado o morro.