Pensamenteando

Pico de gallo con aguacate y queso minas

Era um menino de cidade, gordinho, baixinho e com aquela curiosidade infantil que o fazia descobrir um mundo de coisas novas no mundo de cada dia. Foi só sorrisos quando a mãe contou que iriam, junto da avó, visitar os parentes no interior de Minas.

O caminho era de um verde enfeitado de montanhas. A viagem foi tranquila, com os esperados "Mãe, tá chegando?!" começando antes mesmo de entrarem na rodovia. Antes mesmo de saírem do bairro.

Ao chegar, foram logo encontrando conhecidos. As visitas pareciam ter um roteiro: "Entra, vem, senta. Toma um café. Quanto tempo!". Era impensável recusar.

Para o menino, aquelas pessoas se confundiam, as casas eram parecidas e as conversas tediosas. Por isso ele se animou todo quando foram para fora da cidade. Aos seus olhos, o sítio do seu José Geraldo era uma mistura de fazenda e floresta encantada.

Lá, ele subiu na jabuticabeira - que estava cheia de folhinhas brancas mas sem nenhuma fruta. Pegou laranja do pé com um bambu enorme, amarelado de tão seco: batia com ele nos galhos altos e tentava agarrar as frutas que caíam antes de chegarem ao chão. Correu com os cachorros, juntou os gravetos que mais gostava e desejava levar para casa. Ficou com aqueles pedaços de pau firmemente agarrados contra o peito, como se fossem um tesouro, mas os deixou cair em um canto quando avistou um galinheiro igualzinho aos de desenho animado.

Era feito de madeira, não muito grande, e elevado do chão por pequenas estacas. A fachada, com tela de arame, continha um buraco quadrado: a única entrada, por onde saía uma tábua alongada que servia de escada para as aves.

Era um convite inegável.

O garoto olhou para os lados, depois para trás e repetiu o gesto, conferindo os arredores. Cinco anos já é idade suficiente para saber, com antecedência, quando algo é, provavelmente, "coisa errada". Depois de confirmar que a barra estava limpa, foi, passinho a passinho, avançando por aquela tábua que se dobrava com um chiado atormentado.

Lá dentro, as moradoras pareciam estar esperando por ele. Descobriu que o galinheiro era como uma estante: ninhos de diferentes tamanhos e cores, se amontoando ao longo da parede, indo até o teto. As galinhas pareciam estar cômodas ali, naquela competição para ver quem conseguia encolher mais o pescoço. Algumas o olhavam com desdém, mas a maioria não se importou muito com sua presença. Ou melhor dizendo, não se importaram, até que ele chegou mais perto.

Timidamente, estendeu o braço direito até um ovo solitário, que parecia chamar por ele, bem no meio de um ninho vazio, mas meio que voando, sabe-se lá de onde, uma galinha antipática e esganiçada esvoaçou até o ninho e se acomodou ali em cima – e por pouco, bem pouco, o garoto não levou uma bicada da aparição. Recolheu a mão como um raio e deu um passo desajeitado para trás, mas por conta do espaço apertado, quase deu um encontrão em uma moradora que acabava de chegar, recebendo reclamações ruidosas das residentes que se uniam em um protesto penoso contra o visitante. Depois dessa desavença, com os olhos arregalados e o coração indo para a barriga, decidiu sair dali. Emburrado, se virou para ir embora.

Foi quando conheceu o último elemento de um galinheiro.

O galo andava altivo, de um lado a outro, com aquele movimento meio ondular de lançar a cabeça primeiro e ir com o corpo depois. O tempo pareceu se estender em um breve infinito quando os olhos se encontraram e os dois se encararam. A ave, resoluta, parada no começo da escada, e ele em quatro bases - com apenas metade do corpo de fora.

Depois desse momento infindável - de no máximo dois segundos - o bicho soltou o que o garoto depois descreveu como um rugido, e saiu valente ao ataque. O invasor mirim se apressou a sair da abertura. Fez pouco caso da escada: saltando energicamente até ao chão, onde se esborrachou, levantou, e saiu em disparada. Não querendo perder o inimigo de vista, ele tentava correr e olhar para trás ao mesmo tempo, mas como que faltava a coordenação motora necessária, acabou por fugir em círculos.

Seja pelo alvoroço das galinhas, o cacarejar do galo ou os berros de "Socorro" da criança, aquela algazarra não passou despercebida. Os parentes acudiram a cena.

O primeiro a chegar, seu José Geraldo, correu meio sem jeito e se prostrou, com a face avermelhada pelo esforço, na frente do bicho – que, com seu orgulho ferido, driblou o senhor da fazenda – e se manteve firme atrás do alvo roliço.

A mãe do garoto tentou fazer o mesmo, batendo com força o pé no caminho da ave, que aproveitou a afronta para emendar um pulo meio voado – o que a fez se esquivar da barreira e ganhar alguns metros por conta do impulso. Mais próximo do que nunca e aparentemente incansável, o perseguidor continuou com sua caçada, mas talvez por conta da manobra bem executada o bicho ficou convencido demais e por isso não viu chegar o abacate.

Quem o jogou foi Tia Sônia, a última esperança, que optara por outra estratégia: Pegou um abacate que estava por ali, mirou bem, e lançou o fruto com alguma benção olímpica. O projétil comestível acertou em cheio o galo, que voltou rolando até o galinheiro com a força do impacto.

Em meio a um choro descontrolado, o menino pedia desculpas à mãe, que depois de conferir a integridade física do filho, ralhou com ele enquanto os demais desatavam a rir. Aquela noite, a história foi contada e recontada. Acabou sendo espalhada por entre os parentes, e nas futuras reuniões familiares, voltavam ao caso sempre que podiam, como tinha que ser.

O garoto não sabe se realmente lembra do dia ou se as memórias foram inventadas depois de tanto ouvir aquele conto, mas seja como for, não confia muito em galos. Adora abacate.