Pensamenteando

Cumplicidade dourada

Pedro e Fernanda procuravam um lugar para descansarem no meio de uma ensolarada tarde de carnaval. Embriagados depois de um dia regado a cerveja com amigos de longa data, saíram suados da folia, destrinchando o caminho por entre a multidão, de dedinhos entrelaçados, até emergirem fora do aglomerado carnavalesco.

Ela o puxou para uma parede de tijolos vermelhos. Uma van branca estava estacionada na porta da loja de ferragens em que buscaram abrigo, oferecendo uma singela proteção contra olhares curiosos. Se apertaram contra a suja fachada em um beijo molhado, tateando, agitados, o corpo um do outro. Ficaram a manhã toda tentando achar um momento para escapulir e ficarem a sós. Acabaram em um grupo grande que andava pra lá e pra cá, mas que não parecia nunca estar onde deveria, mas agora, estavam a sós. Se beijavam sem pressa, um beijo com direito a mordidinha no final e um sorriso compartilhado, quando ele se afastou levemente. Olhando para o chão, disse meio que se desculpando: “Espera… tenho que mijar”.

Gargalhando, ela o abraçou forte, fechando as mãos na suas costas e sentenciou: “Não. Não vou te deixar sair, vai ter que fazer aqui, juntinho de mim”.

Sem jeito, com pouca vontade de se afastar dela e depois de ter suas reclamações desprezadas, o prisioneiro abriu o zíper da calça. Com os joelhos meio dobrados e o corpo inclinado, começou a urinar tentando mirar o mais longe possível de onde estavam. Com o rosto tensionado, ele deixava jorrar uma tímida linha amarela-translúcida na parede.

Ela gargalhou, jogando a cabeça para trás. “Não, assim não.” Apertando-o mais contra si, colocou a perna na frente do esguicho. Fechou os olhos em um sorriso quando o líquido quente encontrou a pele dourada.

Pedro, travando brevemente e cortando o fluxo, ensaiou uma objeção, mas relaxou e obedeceu quando aqueles olhos amendoados olharam para ele, inclinados em um pedido que veio em uma voz felina e melosa: “Não para não… Por favor”.

Começando acima do joelho, o jato molhava o breve caminho até seu calcanhar, deixando um rastro em ziguezague que trepidava, umedecendo a pontinha da meia e a lingueta do all star branco antes de saltar para o esquecimento do asfalto.

Voltaram para a folia gargalhando em cumplicidade.